terça-feira, dezembro 30, 2014

Vainbook


Não sou de ir todos os dias às redes sociais, até porque, quando lá vou, raramente vejo notícias dos meus amigos, aparece-me sempre mais sobre bandas de música, realizadores e outras coisas em que pus "gosto" (gosto mas não preciso de ver o que fazem todas as semanas). Claro que podia seleccionar para que não me aparecesse mas eu quero ver... uma vez por mês... chega!
Em espécie de retrospectiva deste ano, no que diz respeito a redes sociais o que elas me mostraram, nomeadamente o Facebook, foi não haver casamentos aborrecidos, relações tempestuosas ou pessoas com vidas monótonas, graças ao Senhor anda tudo com uma vida digna de conto de fadas. Temos, também, os grupos secretos para que só alguns vejam, é válido, no entanto acaba sempre por se ver tudo, tendo amigos naquele grupo, afinal, "uma vez na internet, para sempre na internet".
Vale tudo para fazermos boa publicidade pessoal e a Maria Carolina se colocar fotos a chorar porque todas as amigas têm namorado menos ela, ou o Alberto Carlos fotos aborrecido em casa porque todos os amigos saem à noite menos ele, não é bom marketing, não suscita interesse, não vende.
O que vende são fotografias de viagens (e essas valem a pena ver), beijos na boca (dispensamos), brindes e bebedeiras com grupos de amigos entre os quais há uma grande amizade à noite (preciosas estas amizades) e jantares exóticos (para vermos como o nosso peixe cozido é insosso ao pé do sushi deles). É a feira das vaidades, a revista Caras do comum mortal.
Quem, ao abrir a página, não ficaria surpreendido pela sinceridade dos que mais lá publicam? O emprego que não preenche, o divórcio que está iminente, os namorados que se dão tão bem como russos e ucranianos (embora tenhamos sido brindados todo o ano com posts romanticos entre eles), o que se apercebe que dos seus 500 amigos só pode contar com um e a que tem uma vida entediante mas se refugia nos copos no bar da moda quando os colegas podem ir com ela.
Não que fique contente com as adversidades que os outros enfrentam, até porque há sempre os que não publicam alegrias mas andam felizes da vida, era só mesmo para sentir um bocadinho da imperfeita realidade no meio do perfeito cinismo. 
Porque melhor que folhear uma boa revista cor-de-rosa, é assistir à nova temporada duma série imprevisível.

Sem comentários:

 
Creative Commons License
This work is licenced under a Creative Commons Licence.